A condução dos julgamentos da operação Lava Jato, pelo juiz Sérgio Moro, tem sido alvo de críticas de um lado e de elogios por parte da sociedade. Como interpretar esse embate?
Esses debates revelam, de certa forma, num âmbito maior de discussão, o nosso sistema de controle. A Constituição possibilitou que as instituições de controle fossem fortalecidas. O Ministério Público e a Polícia Federal são exemplo disso, foram transformados em estruturas autônomas. O que acaba acontecendo é que, embora tenha um incremento no campo de controle, há problemas de interação entre elas. Essa interação deveria vir de regras jurídicas.
E isso não acontece no caso da Lava Jato, por exemplo?
Muitas vezes parece que essa baixa interação das atividades de controle está sendo substituída pelo protagonismo pessoal do juiz Sérgio Moro. Aí, entra o debate de que o julgamento acaba por vias não ortodoxas. A grande questão me parece essa. De um lado, há um desejo da população de que é preciso ir adiante, doa a quem doer, independentemente dos modos que se adotem. De outro lado, tem esse risco, de não sermos capazes de possibilitar esse sistema de controle de modo formal, com procedimentos e regras.
E por que, no caso do mensalão, e agora, na Lava Jato, há uma personalização da Justiça nas figuras de Joaquim Barbosa e de Sérgio Moro?
O fato de você ter que encontrar uma figura que vai levar isso adiante pode ser a expressão dessa substituição. Se as instituições de controle não funcionam de forma coordenada como deveriam, a saída que se coloca é personalizar. O protagonismo individual substitui mecanismos mais formais que deveriam existir. Devemos ficar atentos a um risco de politização das instituições de controle.